O Mediterrâneo: um mar de prazer

Como a vida é...

Embalado no gosto forte e absolutamente definido de um café de saco, navego numa leitura genuinamente ócia. Disfruto do acto mais simples da existência:ESTAR.
Estar comigo, um prazer reconhecido e revisitado não tantas vezes como o desejado. Estar com as conversas de três velhotas sentadas cada uma na sua mesa, território orgulhosamente só delimitado, cada uma na sua ilha envia mensagens S.O.S. que se entre-cruzam sem ordem de prioridade. Falam dos benefícios dos alimentos ricos em fibras, da ditadura futebolística do Benfica, escondem as bocas marcadas por palavras longamente mastigadas atrás das ementas do café, tentando imprimir uma fuga eficaz ao fumo de um cigarro esquecido entre dois dedos amarelados.
Seduz-me, mais que tudo, o estar na vida, olhos nos olhos com todos os seus mais pequenos pormenores. Seduz-me sorrir com cumplicidade para a velhota mais próxima ao mesmo tempo que empatizo com um quarentão que se levanta abruptamente suspirando pelo cansaço do gracejo de uma destas velhas naufragas. Seduz-me o saber que se sentam nestas mesmas mesas à 40 anos, apesar de tudo, independentemente do estado do mar! Seduz-me ter tempo para viver...